Meu Direito de Resposta
Meu nome é Bianca Abinader Gavinho, tenho 28 anos, sou casada com Luiz Gustavo Gavinho há 4 anos. Temos uma filha de 3, a Beatriz, e estou no oitavo mês de gestação da minha segunda filha, Laura.
Sou médica, formada há 4 anos pela Universidade Federal do Amazonas, clínica geral, funcionária concursada da SEMSA em exercício desde Junho/2006. Desde Março de 2007 trabalho no Programa Saúde da Família, no qual cumpro regime de horário integral durante o dia. Não tenho outro emprego público ou privado, mas sou sócia em uma cooperativa médica, na qual faço alguns plantões noturnos em SPA's.
Atendo entre 70 a 80 pacientes por semana no meu trabalho no PSF, todas essas produções são enviadas semanalmente ao Distrito. As consultas são voltadas para a Medicina Preventiva (Pré-Natal de baixo risco, Planejamento Familiar, acompanhamento de rotina de Hipertensos/Diabéticos, consultas preventivas pediátricas, etc). As consultas de primeira vez são agendadas pelas agentes de saúde, que visitam as casas dos comunitários, as consultas de retorno geralmente são agendadas por mim. Faço atendimentos domiciliares nos pacientes acamados da área.
Neste 3 anos e meio como concursada, não tenho nenhuma falta registrada em meu nome, nenhum registro de denúncia ou qualquer outra queixa que me desabone, conforme documento emitido pela própria SEMSA (clique aqui para o documento).
No dia 04/01/2010, as 11:30, após atender as pacientes de pré-natal agendadas para aquela manhã, segui para o Distrito Norte para apresentar minha produção da semana anterior, assinar a minha frequência e depois fui ao escritório da Diretora, Dra. Sônia, para tratarmos sobre a possibilidade de minha transferência posterior para uma Unidade mais próxima ao local que irei morar após o nascimento de minha filha. Tudo isso está documentado e assinado pela Secretária que recebeu minha produção e pela Diretora (clique aqui para os documentos).
Cerca de 3 minutos depois de minha saída do posto, de um Fiat branco, com a marca da reportagem da rádio CBN, estacionado a dois quarteirões da unidade de saúde, desembarcaram dois homens: um repórter aparentando de 20 a 30 anos de idade, e o motorista, aparentando entre 40 e 50 anos. Ambos caminharam até o posto de saúde, entraram na recepção e abordaram os funcionários.
Com um microfone e gravador sem identificação da rádio, o repórter abordou o técnico Teófilo Bentes, perguntando se alí trabalhava a Dra. Bianca Abinader. Teófilo disse que sim.
Eles questionaram onde estava, já que ainda eram 11:30 da manhã e ela já havia saído. Ele explicou que tinha ido ao Distrito para entregar minha produção e pediu pra eles pararem de gravar, pois não podiam realizar gravações sem autorização/identificação prévia. Não foi atendido.
Perguntaram se esta minha ausência era permitida, já que meu horário de saída deveria ser ao meio-dia. Teófilo explicou que ir ao Distrito fazia parte do meu trabalho e deveria ser realizado no horário do expediente.
Perguntaram o que aconteceria se chegasse uma urgência e o médico não estivesse no local, explicaram que posto de saúde da família não atende urgências, nem temos estrutura pra isso, e que estes devem ser encaminhados aos SPA's mais próximos. Os atendimentos são agendados.
Seguiram perguntando sobre minha frequência, se cumpria os meus horários, qual era a minha relação com a comunidade, entre outras perguntas. Teófilo respondeu que eu vinha todos os dias, atendia meus pacientes agendados e cumpria a minha carga horária. Respondeu ainda que se eles quisessem saber sobre minha relação com a comunidade, deveria perguntar pra eles. Teófilo pediu novamente pra eles se identificarem e eles seguiram apenas perguntando, nunca respondendo. Saíram da únidade e abordaram dois comunitários e depois seguiram em direção ao carro novamente.
Assim que saí do Distrito recebi uma ligação do Teófilo me avisando do acontecido. Ele já havia tentando me ligar antes, logo que isso ocorreu, mas havia deixado meu celular no carro e não atendi as ligações.
Como funcionária pública sei que estou passiva, a qualquer momento, a fiscalizações ou apurações de denúnicas. Particularmente, conforme documento já mostrado, nunca tinha acontecido isto em 3 anos que trabalho naquela Unidade. Mas sendo funcionária pública, tenho o dever de prestar um bom serviço a população. Só achei estranho a abordagem e a falta de identificação.
No dia seguinte, Terça 05/01/2010, a rádio CBN, as 08:04 minutos, iniciou uma matéria falando da falta de médicos nas unidades de saúde. Depois de dar exemplos de má conduta por parte de alguns médicos, com exemplos trágicos de falta de ética, começou a falar sobre uma reportagem realizada na UBSN-17, no Campo Dourado, onde trabalho.
A matéria dura cerca de 18 minutos, em torno de 10 minutos a partir da primeira citação do meu nome.
Inúmeras inverdades foram citadas a meu respeito. Para resumir, vou lhes detalhar apenas as mais graves, em ordem cronológica de acontecimento:
1) Inicia a reportagem dizendo que minha Unidade de Saúde recebe denúncias diárias da rádio. Nenhuma denúncia foi encaminhada a Secretaria, afinal, até dia 05/01, eu não tinha nenhuma denúncia em meu nome, conforme link anterior assinado pela SEMSA.
1) Relata que existem pacientes aguardando atendimento médico desde Setembro, segundo relato posterior de uma moradora, que reclama que a agente de saúde não aparece para lhe dar satisfação desde lá. A consulta de primeira vez é agendada pela agente de saúde, se isso não aconteceu, nem sequer tive conhecimento da necessidade do atendimento, portanto em momento nenhum me recusei a atendê-la.
2) Diz-se que o paciente não foi atendido porque o médico não aparece para trabalhar. Tanto no dia da reportagem quanto nos dias anteriores tenho registro de minha assiduidade e de meus atendimentos prestados. Não tenho faltas e todas as minha produções semanais estao registradas no DISA NORTE.
3) Diz-se que o Secretário Municipal de Saúde, Francisco Deodato, informou que no dia 04/01 iria instalar uma sindicância para apurar o meu caso pois estava sendo acusada de não cumprir o horário de trabalho. O meu nome não é citado como denunciada, ele relata apenas qual é o procedimento padrão para qualquer funcionário público que recebe uma denúncia. A matéria deu a entender que já havia uma denúncia, não realizada até o dia 05/01, quando procurei a SEMSA.
4) Segundo depoimento de uma moradora, seria difícil encontrar a médica na unidade de Saúde. O relato vem de uma comunitaria que mora no local de aluguel. Minha área tem cerca de 6000 pacientes registrados quando deveria cobrir, no máximo, em torno de 3000. Somos orientados a registrar e atender aos pacientes que possuem casa própria na área e encaminhar os pacientes de aluguel a nossa Unidade de Referência, no caso a UBS Áugeas Gadelha. Seria o caso da paciente do depoimento, que nunca havia sido atendida por mim.
5) O repórter diz que recebeu uma ligação de uma pessoa amiga, que entre outras coisas, sugere que ele pondere sobre a veiculação desta matéria por causa do meu estado de gravidez avançada. Ele responde dizendo que gravidez não é doença, com algumas exceções. Mas que como eu era médica e sabia de minhas limitações, se estivesse incapacitada de trabalhar deveria ter entrado com uma licença médica, no estanto, continuava trabalhando. Nisso o repórter se contradiz, pois há poucos minutos atrás, estava repetindo diversas vezes que eu não trabalhava.
6) O reporter relata que, em nome do zelo profissional, entrou em contato com a assessoria da SEMSA para confirmar a informação, repassada por esta amiga, de que eu estaria no momento da reportagem entregando meus relatórios de produção e frequência e a assessoria nega, dizendo que estava sim no DISA, mas para tratar de minha transferencia, bem depois do horário da reportagem e que nenhum relatório de produção. Várias inverdades nessa parte:
- a própria Sônia me disse que foi procurada, que informou que estava comigo no horário da reportagem (entre 11:30 e 12:00), inclusive assinou um documento que prova isso. Não foi depois da reportagem, foi no momento desta.
- a própria secretária do DISA recebeu meu relatório semanal e assinei a frequência na sua frente. Tudo isso também registrado e assinado.
Frente todas essas acusações que não condizem com a verdade, venho ressaltar publicamente que em momento algum fui procurada pela equipe da CBN para prestar esclarecimentos. Até onde sei, é obrigação do veículo de imprensa, frente a denúncias desta importância, procurar o "acusado" para esclarecimentos antes de se veicular a matéria. Não fui procurada por eles.
Após esta reportagem me citando, com tantas especulações, iniciou-se uma série de outras reportagens em outras Unidades de Saúde da Família. Todas levando cerca de dois minutos apenas, mesmo algumas sendo bem graves. Na segunda unidade, eles chegaram identificados, porém não chegaram identificando o nome da médica, que nem conheciam. Ressaltaram que a médica estava afastada por licença médica.
No outro dia, quando eu estava afastada por licença médica, a CBN voltou ao meu posto de saúde. Disse na nova reportagem que eu não estava presente, mas não citou que agora quem estava afastada por licença médica era eu, apesar de terem sido informados pelo técnico.
Todas as outras reportagens de investigação em UBSNs posteriores a minha foram mostradas ao vivo. A minha foi a única gravada e editada.
Ainda ontem (06/01/2009) o repórter criticou a médica Bianca Abinader por ser frequente usuária da rede social Twitter.
Ser médica não me impede de utilizar nenhuma rede social, de expressar as minhas idéias, muito menos me determina limitação de frequência. Já acessei a internet durante o final do meu expediente alguns dias, após atendimentos, mas isso nunca impediu que cumprisse o meu papel profissional, sequer pode ser classificado como má conduta. Fora do meu horário de expediente, utilizo com bastante frequência as redes sociais, mas isso só diz respeito a mim. Não entendo porque insistir tanto nesse assunto tão particular.
A frequência de uso de redes sociais por mim ou qualquer outro profissional, desde que não interfira na assiduidade e qualidade do seu trabalho, não deveria ser questionada. Seu profissionalismo, sim.
Logo depois do ocorrido, venho recebendo diversos votos de solidariedade e apoio, tanto por parte dos meus familiares, quanto por parte de amigos, colegas e conhecidos. Isto tem me dado forças pra superar tanta calúnia. A própria rede social tão duramente criticada pelo repórter, foi uma das que mais se manifestou e se solidarizou diante desta constante difamação do meu nome dos últimos dias.
Não é fácil para uma pessoa no oitavo mês de gravidez, esposa, mãe e trabalhadora ter seu nome sendo repetido diversas vezes ao dia envolto por tantas inverdades, sem sequer ter direito a uma resposta a estas acusações. Tanto que, desde a Terça-Feira, 05/01, dia em que a reportagem foi ao ar, estou afastada com atestado médico por consequencias emocionais graves diante da minha gravidez. Poderia estar trabalhando normalmente, cuprindo minha carga horária como sempre faço, mas estou afastada e enfrentando todas as desatrosas consequências emocionais destas denúncias infudamentadas.
Quem não deve não teme. Concordo com o ditado e não temo, tanto que enfrentei a situação e já contactei todos os orgãos (SEMSA, CRM, Sindicato dos Médicos, etc) pra me disponibilzar pra qualquer informação/investigação necessária, exatamente porque sei da idoneidade dos meu atos.
Mas isso não me impede de, enquanto ser humano, em especial na condição de mulher grávida, me chocar frente a tanta insistência por parte da Rádio CBN Manaus em citar/difamar e denegrir o meu nome.
Espero, e isso é o que mais preocupa a minha família no momento, que esta perseguição a qual estou sendo submetida, não traga nenhuma consequência grave para minha saúde e para saúde da minha filha ainda em meu ventre. Gravidez realmente não é doença, mas qualquer abalo emocional mais grave pode nos prejudicar nessa situação.
Podem existir muitos médicos praticando atos de má conduta, péssimo atendimento, falta de ética profissional, porém não existe nenhuma evidência de qualquer ato desta natureza praticados por mim. Até quando meu nome vai continuar sendo utilizado como exemplo de profissional deste nível de maneira tão vil?
Ao contrário de tudo que foi dito, esta é a médica e amiga Bianca Abinader conhecida pela comunidade do Campo Dourado desde 2007: Festa de Natal do Campo Dourado.
Médicos ausentes e não comprometidos com a comunidade pra qual assistem provavelmente seriam incapazes de ações sociais como esta, sem nenhum interesse a não ser o bem estar da população. Mas isso é só um pouco do meu trabalho por lá.
Agradeço a atenção de todos. Minha alma gritava por este desabafo.